Prelúdio
de um beijo
As datas simbólicas fazem
parte da nossa vida e, como tal, fazem parte de nós. Aniversários e outros
acontecimentos, mais ou menos, festivos atrevem-se a quebrar as rotinas. Servem
para pôr o conta-quilómetros a zero. Obrigam-nos a parar, a tentar fazer algo
de diferente para que esse dia não seja considerado inútil. Em certa medida,
atentam contra a pasmaceira. O dia de hoje obriga-me a equacionar um desafio de
todos os casais: podemos viver sem Amor?
É uma frase
feita dizer: "O ser humano não pode viver sem amor. Sem amor, torna-se em
algo incompreensível para si mesmo." Ou, então, “o amor é o mais belo de
todos os sentimentos”.
Frases
feitas, batidas, desgastadas mas necessárias. Porque verdade seja dita, a vida
é como uma brisa inebriante, desvenda-nos tudo (basta estar atento!): paixões
amorosas ou outras, projectos profissionais, filhos, sonhos, bens materiais, luxos
(pequenos ou grandes), aventuras, etc. Mas há uma hora em que tudo se reduz a
terra, a cinza…
O que sobra?
Nisso Álvaro
de Campos tem razão:
“(...) Vi todas as coisas e
maravilhei-me de tudo,
Mas tudo
ou sobrou ou foi
pouco, não sei qual, e eu sofri.
Eu vivi todas as emoções, todos os
pensamentos, todos os gestos.
E fiquei tão triste como se tivesse
querido
vivê-los e não conseguisse (...)”
Álvaro
de Campos
Malgrado as suas dificuldades, o Amor é a única
realidade humana necessária (necessidade básica, fundamental, fisiológica).
Insubstituível (ainda que haja quem afirme que: “os cemitérios estão cheios de
coisas insubstituíveis”!).
A sua manutenção num casal requer engenho e
arte. Tanto o esforço que muitos casais acabam por desistir. Deitam a toalha ao
chão e partem para o divórcio. Fartam-se de acrobacias, de cedências, de
diplomacias, de boas palavras, de olhares subtis.
O conhecimento científico traz-nos algumas
seguranças. Ajuda a eliminar o supérfluo, purga o que está a mais nas
superstições. Combate os erros das religiões. E em matéria de vida amorosa a
Ciência esclarece que nada nasce feito.
A Felicidade
a dois não é imediata, para ser tocada tem de ser conquistada, com suor e
lágrimas. É uma invenção quotidiana apimentada pela sexualidade e pelo sentido
de humor. Rir-se de si mesmo, rir-se do(a) outro(a), rir-se para o(a) outro(a)
e com o(a) outro(a). Rir-se sempre… Com sinceridade, lá do fundo do coração.
PS:
para perceber um pouco as influências da História nos conteúdos do sentimento
amoroso leia-se o curioso artigo: “The
warm water in my heart”—The meanings of love among the Finnish country
population in the second half of the 17th century”, publicado na revista History of the Family 16 (2011) 47–61
(disponível no site
www.sciencedirect.com).
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