As Varinas e o "Objecto" Artistico

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A representação gráfica de um pensamento, de uma memória, de um trauma, reveste-se de um inegável valor terapêutico. Esconjura os males? Talvez… Nas crianças, vítimas de violência ou que presenciaram situações de violência, ajuda a dar corpo ao inexplicado. Aquilo que ficou por compreender. A Arte pode ser terapêutica ao libertar o sofrimento, o inferno que há em nós.

Tudo bem, mas como devemos aceitar a relação dos objectos artísticos com os espaços públicos. A Arte não é neutra nem inocente. A exposição de objectos com conotação (por ex: comercial, política, moral ou sexual) é conveniente, é razoável nos locais públicos?

As varinas de Aveiro andam indignadas: colocaram uma “sugestiva” escultura no Mercado do Peixe. Sentem-se incomodadas. A imagem não deixa dúvidas. Trata-se de um atentado à moral pública. Um gesto despudorado. Por trás do atrevimento estará um inusitado indício de provocação? Ou será que a(o) artista pretendeu tão só suscitar a reflexão? Foi a(o) artista que lá mandou colocar a coisa (ou melhor, o coiso!)?

Neste exemplo, como em tantos outros, constata-se que as imagens sexuais não deixam ninguém indiferente. Porque será? As tantas, porque as fantasias querem-se no recato das alcovas e desviadas dos olhares públicos…Será? As crianças, com grande à vontade, misturam o sonho com a realidade. Convivem com essas duas realidades, tiram partido da plasticidade do Sistema Nervoso Central. O adulto, por ser maduro e respeitável, tem que se conter. Esconde as sensações, os afectos, os desejos. Daí os vícios privados - veja-se a notícia publicada no “Correio da Manhã”, edição desta quinta-feira, sobre uma determinada festa, de acesso restrito, que envolveu figuras do jet set!

Quantos adultos reparam nos seus corpos sem desconforto?

Mas ainda bem que as Sras. peixeiras mostraram que em Portugal há alguém que é capaz de se revoltar, tanta a docilidade (domesticação?) com que os nossos compatriotas convivem com o desespero social provocado pelos erros dos políticos. Grandes heroínas! Um clamor nunca fez mal a ninguém.