segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Hurricane Irene Times Square (With Police Radio)





Irene, o furacão!

Estranho fenómeno este, que tanto pode ser uma tempestade tropical (logo, assumindo uma denominação feminina), como, em plena violência destruidora, arrastando tudo à sua frente, mostrando quem manda, é capaz de assumir o papel de furacão. Raios e coriscos, a linguagem é tramada…
A intensidade da violência molda-lhe a condição. Se mais meigo é apenas uma tempestade tropical. Se no máximo da aniquilação, avassalador, então será um furacão. Por onde passa deixa um rasto de devastação.
Mas independentemente da brutalidade da coisa, ela terá sempre um nome de mulher: Irene, Katrina, Rita… Pelo menos, é essa a mensagem que a CNN, BBC, Youtube e outra comunicação social dos tempos da globalização, grava no nosso inconsciente colectivo.

Furacão Irene Filmado da Estação Espacial - ISS View of Hurricane Irene

I


Irene, o masculino-feminino

Nos anais da História consta que foi um meteorologista australiano que, no começo do século XX, começou a dar aos furacões nomes de pessoas comuns, especialmente daquelas que ele mais detestava.
 Em1979 passaram a ser usados também nomes masculinos.  Hoje em dia, a Organização Meteorológica Mundial, com sede em Genebra (tantas organizações imprestáveis têm sede em Genebra!), é quem decide. Na verdade, nos últimos tempos, o que retemos são os nomes não masculinos – excepto no caso do singular “El niño -. 
Esta tendência constituirá uma benção maléfica, uma espécie de vingança ancestral depois de dois milénios de civilizações patriarcais? 

 Ou, pelo contrário, estaremos no advento de algo diferente, algo novo, testemunho de um mundo em transformação de costumes?  Algo que leva à mistura de estereótipos, deitando por terra as ideias feitas do que tradicionalmente foi considerado como intrínseco ao masculino e ao feminino?

quarta-feira, 24 de agosto de 2011


A armadilha do sexo
    O sexo serve para quê, que fazemos com ele? É um tema importante, não nos deixa indiferentes, mas surpreendentemente pouco estudado.
    Uma das razões para esta relativa negligência é que as pessoas podem assumir que as respostas são óbvias: para sentir prazer sexual, para aliviar a tensão sexual, ou para se reproduzir.
   Mas mesmo dentro do contexto de uma relação com proximidade afectiva, perfilam-se inúmeras razões para ter actividade sexual, além das já documentadas.
     Assim, o sexo pode ser utilizado para recompensar um(a) parceiro(a) ou como um favor em troca de algo que o(a) parceiro(a) tenha feito. Uma moeda de troca!
    O sexo (ou melhor a falta dele!) pode ser usado para punir um parceiro, como retaliação, em jeito vingança, para com o(a) parceiro(a).
   Além disso, dentro de um relacionamento estável, o sexo pode ser usado para intensificar as trocas afectivas, aumentando o nível de compromisso no relacionamento, ou transformar um relacionamento de curto prazo (descartável) num relacionamento duradoiro.

  É aliciante ler o resto do artigo científico: “Why Humans Have Sex” escrito por Cindy M. Meston David M. Buss. Foi publicado na revista Archives of Sex Behavior (2007) 36:477–507 (alguns motores de busca facilitam o acesso ao texto completo).

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Les Indes galantes. Les Sauvages

        A 23 de Agosto de 1735 Jean Philippe Rameau estreou uma obra singular: “Les Indes Galantes”. Quem a ouve depressa se apercebe que estamos perante uma ode ao Amor e ao Multiculturalismo, fenómeno que, nos últimos tempos, tem assustado tantas boas consciências e é, por isso, tão criticado, vilipendiado. Cantos de sereia!
       A convivência amorosa requer diplomacia. Mais do que a política a gestão relacional de um casal envolve a negociação, de quase tudo, ainda que não permanentemente. Mas a co-existência de dois seres sob o mesmo tecto e com o mesmo projecto de vida precisa de música, de uma melodia que inebrie e possa dar sentido às diferenças, às separações, aos ataques de individualismo. 

     Obras como “Les Indes Galantes” dão sentido e recompõem. Retemperam as forças vitais e fazem apelo ao que é essencial. Ingredientes necessários ao sustento da nossa alma.A música ou qualquer outro motivo de interesse comum, que funcione como objecto de partilha, alimenta o Amor, ajuda os dedos a viajarem à boleia dos olhos. E o Amor quando palpita faz atrasar os ponteiros do relógio.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Kings of Convenience - Me In You



Estes dois rapazes conseguem despertar os Deuses e apaziguar as nossas quotidianas inquietações. Um excelente remédio para os conflitos amorosos e para todas as outras zangas que vamos alimentando com a vida! Quem pretender ouvir estas vozes encantatórias e mágicas poderá procurá-las no Festival de Paredes de Coura.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

       A perda da virgindade
      Luísa foi violada em plena juventude. Nunca conseguiu esquecer, tanto mais que a pessoa envolvida era alguém que conhecia muito bem. Quando recordava a cena da violação sentia um arrepio na espinha. Apetecia-lhe destruir tudo.
         Com o passar dos anos o sofrimento foi aliviando. Para isso ajudou a constituição da sua própria família e o nascimento das filhas. Atravessou duas décadas em que praticamente não se lembrava de nada: apenas flashes ocasionais. Tinha regressado à vida. Até se sentia feliz. Pelo menos, tentava dar mostras disso: por causa das filhas. Os anos foram passando, as miúdas cresceram e Luísa estava satisfeita com o seu papel de mãe. A filha mais velha, aí pelos 18 anos começou a namorar. O rapaz era simpático, educado e trabalhador, três requisitos imprescindíveis para este namoro receber o beneplácito de Luísa. Aparecia lá por casa e mostrava-se cordial com ela. Acima de tudo, não queria que alguém do seu sangue viesse a sofrer da mesma desgraça.
         O namoro foi amadurecendo, os dois davam-se bem, existia muito cumplicidade entre eles, o que confortava Luísa. Certo dia a rapariga disse que lhe queria contar um segredo e que a irmã não podia ouvir. Refugiaram-se, mãe e filha, num recanto da casa, mais pareciam duas velhas amigas conversando em amena cavaqueira, tal a intimidade, a atenção selectiva que dedicavam uma à outra.
         E foi nessa ocasião que Luísa tomou conhecimento que a sua filha mais querida desejava perder a virgindade. Num primeiro momento ficou enternecida pela atenção, pelo cuidado que a jovem teve para consigo. Não tinha nada que contar à mãe mas fê-lo de livre vontade. Não precisava de lhe pedir autorização. Era uma prova de inaudita confiança. Sentia-se orgulhosa pela educação que lhe tinha dado. Este episódio ainda aumentou mais a sua confiança com a vida: afinal, estava tudo bem e o destino acabou por recompensá-la com alguma da felicidade do mundo.
         Mas nessa noite não foi capaz de adormecer. Dava voltas e mais voltas na cama. Não conseguia explicar mas sentia-se terrivelmente angustiada. As frontes latejavam. A respiração estava descompensada. A pele humedecida. O coração batia com tanta força que parecia um dos bombos dos Mareantes do Douro. Sufocava. Temia que lhe acontecesse algo de mal. Acabou por levantar-se e aproximou-se da janela, respirou profundamente, de um só fôlego e num lapso de clarividência acabou por enxergar que a filha tinha combinado, tinha programado o acto de amor para o mesmo dia e para o mesmo mês em que ela própria foi violada, embora a jovem desconhecesse esse terrível infortúnio da vida da sua mãe…

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

E depois do adeus?
  Nos últimos dias provocou sururu na pacata Paróquia da Nossa Sra. da Ajuda (Foz do Douro - Porto) a transferência do respectivo pároco para uma outra comunidade, também na Diocese do Porto (ver: http://www.paroquiadaajuda.org/). 

  Esgrimiram-se múltiplos argumentos para tentar compreender a saída do Padre Baptista.  A discussão estendeu-se às redes sociais. Sejam quais forem as linhas de reflexão, o que aqui está em jogo prende-se com o fim de uma relação, neste caso entre “um pastor e o seu rebanho”, num compromisso que se prolongou por 40 anos. Como em todas as relações que envolvam pessoas, está a custar imenso(?) a esta comunidade humana deixar partir um dos seus membros, permitir que ele possa reconstituir a vida noutras andanças, com outras pessoas, com novos(?) sonhos, novos projectos. Em suma: permitir que possa estar longe de nós e do que criámos com ele... 

   O que sobra depois do adeus?

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Sexy Over 60

O tempo passa, não conseguimos escapar  aos seus efeitos, o pensamento dominante é que evita não olhar para os seus estragos. Mas há exemplos de plenitude inconfundível que vale a pena divulgar:

Sexy Over 60

terça-feira, 2 de agosto de 2011


Com o corpo todo e o coração encantado ou como praticar o bem (sem ser moralista!) em período de férias

   Costuma dizer-se que quem vê caras não vê corações. Mas é difícil pôr um corpo a concordar com as palavras. São linguagens diferentes? Pelo menos, o Verão dá oportunidade a que um deles (o corpo!) surja com toda a sua plenitude, seja exposto, seja mostrado, seja assumido. Se o corpo ganha visibilidade, nem sempre, se compatibiliza com a palavra, com o que se diz à pessoa com quem vamos partilhar a quase totalidade do tempo: a pessoa com quem casamos ou com quem namoramos. Com essa pessoa partilhamos as férias. Com essa pessoa gerimos o tempo que estamos juntos. Fazemos escolhas e tomamos decisões sobre o que fazer durante 15 dias ou um mês completo. As férias aproximam aquilo que o resto do ano separa, o tempo que temos em comum. As férias dão-nos mais tempo. O que até pode ser desconcertante, porque é preciso organizar actividades em conjunto com a “cara metade”, para além daquelas a que estamos habituados e que costumam confinar-se ao espaço da casa e acontecem num período de tempo relativamente curto: o fim do dia (após o trabalho) ou o fim de semana. Esta convivência inusitada(?) pode despertar algumas zonas de desconforto e, nalguns casos, acicatar conflitos entre os dois membros do casal. Zangas fúteis, desproporcionadas, excessivas, que surgem por motivos insignificantes como se verifica na maioria das discussões nos casais humanos. Coisas de nada.
   Há uns dias atrás, Pilar, a esposa de José Saramago, numa entrevista à TVI24 assumiu que ela e o escritor costumavam ter divergências, as  discussões não estavam alheias à vida em comum. Tinham formas de ver distintas em relação a uma data de coisas. Mas, reconheceu que, apesar das diferenças nunca se deitavam zangados um com o outro. As discordâncias não os afastavam. Com uma sabedoria que lhe é própria e vem de quem está em paz com a vida, esta mulher desvendou que o segredo de um casamento feliz está na harmonia entre os dois intervenientes. Por isso, praticar o bem durante as férias ou em qualquer período da vida em comum passa em muito por um esforço espontâneo de combate ao egoísmo, por saber colocar-se na pele do outro, da pessoa amada.  Saber estar a atento às suas necessidades. A expressão “praticar o bem” está presente na matriz de algumas religiões e de certas  correntes filosóficas. Mais do que outra coisa, apela ao controlo do individualismo e dos gestos impulsivos, à sublimação das paixões desenfreadas.
   Por esta mundo fora, vale a pena um empenhamento quotidiano para que seja possível dizer que à noite ela deitou-se ao seu lado e, num instante, adormeceram os dois.
   As paixões forjam a História. A História da Humanidade e a pequena história de cada casal. Mas, para além das paixões, a inteligência emocional é outro ingrediente de todas as relações amorosas.