domingo, 9 de dezembro de 2012

Binge Eating - quando a comida toma conta de nós e nós não sabemos a quantas andamos


Num bom filme épico, do género “A última Legião”  corro sempre o risco de me identificar com os bons da fita, talvez por impregnação excessiva de livros de cowboys, numa  certa fase da Infância. É uma reacção visceral, incontrolável, embora se saiba que, tantas vezes, os “bons” não fiquem bem na fotografia e que dos fracos não reza a História. Esta propensão para a benevolência surge incontrolável, qual automatismo inconsciente para mitigar os desejos acumulados.

Mas o caso muda de figura quando se fala de compulsividade. Não é fácil sentir empatia com esta gente. O compulsivo está senhor do que faz, encontra-se lúcido, pode optar, escolher entre o que acha que deve fazer, mesmo que desnecessário, irrealista ou não compreensível e aquilo que os que o rodeiam (a cultura dominante naquele momento histórico!) consideram como aceitável em relação a determinado comportamento. Ele está consciente do erro ou da desnecessidade do seu acto, mas mesmo assim acaba por “pecar”, não se aguenta e pumba lá repete o automatismo, seja lavar as mãos um montão de vezes sem qualquer justificação plausível, seja verificar se as portas estão bem fechadas, seja comer que nem um desalmado. Come só evitar que a ansiedade não o destrua. Ninguém é Binge Eating só por prazer. Comer a torto e a direito, sem fome ou sem desejo de saciação, não dá gratificação nenhuma. Enche a barriga e mais nada. A  pessoa em causa sabe que está a fazer mal mas não consegue parar e para evitar um sofrimento está a despoletar um outro. A princípio estranha-se mas depois entranha-se, deixa-se levar porque acha que não remédio. E paulatinamente vai escrevendo a sua própria destruição.
São Jerónimo escrevendo, 1605-06, Galeria Borghese, Roma (http://artemazeh.blogspot.pt)
  Apesar de se ouvir falar menos dela, o “Binge Eating” é, tal como a Bulimia e a Anorexia Nervosa, uma doença do comportamento alimentar. É uma doença caracterizada pelo consumo exagerado de alimentos, que contribui para uma ingestão excessiva de calorias.Carne, batatas, glúcidos em grandes quantidades e tudo o resto serve para alimentar o seu desespero.
Os comedores de batata  Vincent van Gogh (http://artemazeh.blogspot.pt/search/label/Van%20Gogh)

Estas pessoas costumam comer, num curto período de tempo, uma quantidade de comida muito maior do que o comum dos mortais comeria em situações equiparáveis.
O Binge Eating é frequente nos indivíduos obesos. Pois, eles é que têm a má fama e o muito proveito entre as perturbações do comportamento alimentar. Olha-se para Anorexia Nervosa com como um infestação, algo de estranho, um acesso de loucura. Coitadinha, era tão bonitinha mas passou-se e ficou esquelética!
In: Tumblr
  
Enquanto isso, o obeso militante é alguém como nós, cruzamo-nos ele todos os dias. O  que o distingue dos ditos “normais”, os que não são estigmatizados pelo pensamento dominante, é que ele (ou ela!) vai-se borrifando para a realidade e faz do seu estômago o centro do mundo.  Não que viva em função das vísceras, por força do seu masoquismo empedernido, mas porque não tem mão nas suas emoções. As tristezas e as ânsias incontroláveis tornam  vulneráveis estas pessoas. A sua maior fraqueza está nos afectos, 50% dos comedores compulsivos (Binge Eating) com obesidade também apresentam sintomas compatíveis com Depressão, enquanto que apenas 5% dos obesos mas sem Binge Eating são deprimidos. Como uma testemunha-chave, qual Adágio de Albinoni, o desconsolo emocional, os recalcamentos, a frustração e o desânimo vão assistindo ao assalto às calorias. Assistindo mas com culpas no cartório!   
Os principais sintomas da doença (é verdadeira patologia e não apenas uma variante da normalidade ou uma mera bizarria) são os seguintes:
  • comer muito mais rápido do que o habitual;
  • comer até estar muito cheio;
  • comer grandes quantidades mesmo não sentindo necessidade de comer;
  • sentimentos de repressão, culpa depois de comer.
Este tipo de distúrbio tem de semelhante com a bulimia a elevada ingestão de alimentos mas, ao contrário desta, o doente Binge Eating não provoca o vómito.  Muitas pessoas que sofrem desta compulsão alimentar passaram por grandes oscilações de peso.

Tratamento
A maioria dos indivíduos com este distúrbio são tratados com programas convencionais de perda de peso utilizados no tratamento da obesidade, os quais dão pouca atenção ao comer compulsivo (Binge Eating).
 A maioria dos indivíduos aceita a situação porque estão mais preocupados com a obesidade do que com o Binge Eating.
 Os tratamentos específicos para o comer compulsivo baseiam-se no tratamento da Bulimia Nervosa. Eles incluem a psicoterapia e o tratamento por medicamentos. Pelo que se sabe, no cérebro destes compulsivos possivelmente haverá baixos níveis de serotonina, um mediador químico que tem uma importância fundamental em diversos estados de humor e que está envolvido em diversos transtornos psiquiátricos, entre eles o da compulsão alimentar ou Binge Eating.


Sem comentários:

Enviar um comentário