Há livros em que podemos dizer como num determinado, filme que “Nem contigo nem sem ti”. São livros que nos deixam indiferentes, que não conseguem tocar a nossa vida. Cheiram a mofo pelas ideias que transmitem. Não são capazes de inovar. Ao lê-los, ficamos com uma insuportável sensação de “déjà vu” ou de “déjà vécu”e, neste último caso, a coisa complica-se, o que é mais grave, porque tudo se repete num tédio que incomoda as sinapses cerebrais. Tudo se replica embora desfasado no tempo. Nos livros mais do que a falta de criatividade devia ser proibido o plágio das vivências, que dá azo à manipulação dos afectos envolvidos e à descaracterização das pessoas.
Noutros casos, o livro não funciona por falta de impacto. Ou é a capa que não desperta interesse ou é a primeira página que está mal estruturada, as ideias surgem atropeladas, organizadas sem sentido, o que gera confusão no leitor. Há primeiras páginas que valem por mil imagens. E como todos sabemos a nitidez da imagem é um dos ingredientes que ajuda criar a qualidade da fotografia.
Num grupo à parte temos os produtos de excepção, aqueles que perduram no tempo, graças à qualidade indelével, fina e requintada do autor ou dos autores. Neste categoria de eleição coloco o mais recente livro de Léon Roberto Gindin e Cristina Tânia Fridman, dois prestigiados clínicos e psicoterapeutas argentinos. É um livro que nos fala sobre casamentos não consumados. Trata-se de uma Edição da Paidós (Argentina).
Num mundo impregnado por sensações, de todo género, pode parecer quase contranatura haver casais que não concretizam o acto sexual. As razões são múltiplas, desde as causas médicas (orgânicas ou psicológicas), passando pelos motivos educacionais e religiosos. Quando geradores de mal estar estes casamentos (atípicos?), em si mesmos, provocam doenças, destroem sentimentos e afastam os membros do casal, através de saturação e da incapacidade para lidar com o problema. Ninguém fica intacto!
Os autores, num estilo muito literário e profundamente humano, relatam-nos várias histórias clínicas, ajudam-nos a perceber o que pode e deve ser feito. Nestes casos, cruzar os braços anula o Amor que une aquelas duas pessoas. Assim, mais do que o problema existente o que mata um casamento não consumado é a falta de comunicação e a incapacidade para pedir ajuda.
Este é um livro que cativa e encanta desde a primeira página. Devorei-o parcialmente num viagem de avião de 10 horas, mitigando os efeitos do jet lag.
Recorrendo, de novo, a um título do imaginário Hollywoodesco, atrevo-me a sugerir que este livro é dos que ficam “Para sempre, talvez”.