terça-feira, 2 de agosto de 2011


Com o corpo todo e o coração encantado ou como praticar o bem (sem ser moralista!) em período de férias

   Costuma dizer-se que quem vê caras não vê corações. Mas é difícil pôr um corpo a concordar com as palavras. São linguagens diferentes? Pelo menos, o Verão dá oportunidade a que um deles (o corpo!) surja com toda a sua plenitude, seja exposto, seja mostrado, seja assumido. Se o corpo ganha visibilidade, nem sempre, se compatibiliza com a palavra, com o que se diz à pessoa com quem vamos partilhar a quase totalidade do tempo: a pessoa com quem casamos ou com quem namoramos. Com essa pessoa partilhamos as férias. Com essa pessoa gerimos o tempo que estamos juntos. Fazemos escolhas e tomamos decisões sobre o que fazer durante 15 dias ou um mês completo. As férias aproximam aquilo que o resto do ano separa, o tempo que temos em comum. As férias dão-nos mais tempo. O que até pode ser desconcertante, porque é preciso organizar actividades em conjunto com a “cara metade”, para além daquelas a que estamos habituados e que costumam confinar-se ao espaço da casa e acontecem num período de tempo relativamente curto: o fim do dia (após o trabalho) ou o fim de semana. Esta convivência inusitada(?) pode despertar algumas zonas de desconforto e, nalguns casos, acicatar conflitos entre os dois membros do casal. Zangas fúteis, desproporcionadas, excessivas, que surgem por motivos insignificantes como se verifica na maioria das discussões nos casais humanos. Coisas de nada.
   Há uns dias atrás, Pilar, a esposa de José Saramago, numa entrevista à TVI24 assumiu que ela e o escritor costumavam ter divergências, as  discussões não estavam alheias à vida em comum. Tinham formas de ver distintas em relação a uma data de coisas. Mas, reconheceu que, apesar das diferenças nunca se deitavam zangados um com o outro. As discordâncias não os afastavam. Com uma sabedoria que lhe é própria e vem de quem está em paz com a vida, esta mulher desvendou que o segredo de um casamento feliz está na harmonia entre os dois intervenientes. Por isso, praticar o bem durante as férias ou em qualquer período da vida em comum passa em muito por um esforço espontâneo de combate ao egoísmo, por saber colocar-se na pele do outro, da pessoa amada.  Saber estar a atento às suas necessidades. A expressão “praticar o bem” está presente na matriz de algumas religiões e de certas  correntes filosóficas. Mais do que outra coisa, apela ao controlo do individualismo e dos gestos impulsivos, à sublimação das paixões desenfreadas.
   Por esta mundo fora, vale a pena um empenhamento quotidiano para que seja possível dizer que à noite ela deitou-se ao seu lado e, num instante, adormeceram os dois.
   As paixões forjam a História. A História da Humanidade e a pequena história de cada casal. Mas, para além das paixões, a inteligência emocional é outro ingrediente de todas as relações amorosas. 

 


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