sábado, 29 de outubro de 2011

O Dr. Phil

     O inferno está farto de palavras heróicas. Uma delas é o vocábulo “normal”. Foi imposto como uma zona de conforto.  Quem o veste sente-se integrado, faz parte dos outros, vive em sociedade e  com aquilo que esta considera como aceitável. Ser normal é sempre um termo de comparação, o que temos não é dado a outros, os “anormais”. Esses acabam por ficar excluídos. Assim,  somos perseguidos por essa obsessão de fazer tudo certinho, respeitando as imposições legais (e todas as outras!), bons cidadãos e bons esposos. Modestos e recatados. Nesse sentido, a normalidade confunde-se com massificação, perda da individualidade e ditadura. Todos iguais e todos normais.
    Um dos protagonistas deste aparelho ideológico do que é “conforme” chama-se Dr. Phil. O programa do Dr. Phil entretém, ajuda, profetiza?
    Na verdade, o que faz é aplicar à letra a Bíblia de uma certa Psiquiatria norte-americana: a que se revê no DSM-IV-TR. Os seus conselhos soam a normas. Reduz a vasta complexidade do funcionamento psicológico a meia dúzia de estereótipos. Leia-se, banalidades.
    A realidade do nosso quotidiano demonstra que não há felicidade sem uma réstia de loucura. O melhor estilo de uma pessoa advém dos seus defeitos. Ter inconvenientes  adjectiva-nos. Acentua os fracassos mas torna-nos mais singelos, despertos. A alegria reencontra-se com as lágrimas no fundo da nossa humanidade.

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