quinta-feira, 5 de abril de 2012

As Lágrimas Amargas da Semana Santa



       Dantes por esta altura do ano duas coisas marcavam o quotidiano dos portugueses: os filmes chatos que passavam no canal único de televisão, intercalados com concertos de música clássica, que, na prática, apenas contribuíram para criar um certo asco em relação a uma das maravilhas da cultura ocidental - a música, sobretudo, a barroca -  e um convívio inusitado com "neutros hermanos" que inundavam as praças das principais cidades, procuravam algum comércio tradicional (hoje, os centros comerciais!) e percorriam os pontos turísticos ávidos sabe-se lá de quê (talvez, à semelhança dos portugueses, de um ponto de fuga, uma aragem de diferença, em relação a uma Ditadura que os sufocava desde a Guerra Civil).
     Mudaram-se os tempos, mudaram-se (apenas!) algumas vontades. Hoje, a televisão, à excepção dos canais do Cabo, não traz alegria aos nossos corações. Felizmente, que acabou o ar irrespirável que impregnava a nossa vida colectiva (falta de liberdades, a censura, a repressão policial, o partido único, a Guerra Colonial, a Pide). E sobraram os queridos Espanhóis, a nossa outra face ibérica. Esses, com uma convicção quase que religiosa, continuam a procurar Portugal na Semana Santa. Passam por cá mas convivem pouco connosco, talvez porque somos muito parecidos nos hábitos, nos gostos e nos tiques de uma certa classe média (em decadência!), que é uma amálgama do kistch comportamental com a sofreguidão de viver o presente, à falta de perspectivas de um  futuro melhor.
        Mas, nesta Quinta Feira Santa, que já não existe para salvar as almas mas para enganar os corpos, o que me deixou incomodado foram as lágrimas legítimas daquele pai que tem assistido, impotente, ao sofrimento prolongado de uma filha a quem retiraram um pulmão, corroído por um carcinoma, que teima em resistir à radioterapia e à quimioterapia…
In: http://www.acores.net/blogger/view.php?id=15526

    O castigo da Cruz, se existe, cruza-se a miúdo com o destino de cada pai e de cada mãe quando a biologia perpetuada nos filhos entra em contradição com o direito à felicidade.
In: tumblr_ljht7c5TYG1qe0eclo1_r5_500.gif

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