segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Casamentos não Consumados

   Há livros em que podemos dizer como num determinado, filme que “Nem contigo nem sem ti”. São livros que nos deixam indiferentes, que não conseguem tocar a nossa vida. Cheiram a mofo pelas ideias que transmitem. Não são capazes de inovar. Ao lê-los, ficamos com uma insuportável sensação de “déjà vu” ou de “déjà vécu”e, neste último caso, a coisa complica-se, o que é mais grave, porque tudo se repete num tédio que incomoda as sinapses cerebrais. Tudo se replica embora desfasado no tempo. Nos livros mais do que a falta de criatividade devia ser proibido o plágio das vivências, que dá azo à manipulação dos afectos envolvidos e à descaracterização das pessoas.
    Noutros casos, o livro não funciona por falta de impacto. Ou é a capa que não desperta interesse ou é a primeira página que está mal estruturada, as ideias surgem atropeladas, organizadas sem sentido, o que gera confusão no leitor. Há primeiras páginas que valem por mil imagens. E como todos sabemos a nitidez da imagem é um dos ingredientes que ajuda criar a qualidade da fotografia.
   Num grupo à parte temos os produtos de excepção, aqueles que perduram no tempo, graças à qualidade indelével, fina e requintada do autor ou dos autores. Neste categoria de eleição coloco o mais recente livro de Léon Roberto Gindin e Cristina Tânia Fridman, dois prestigiados clínicos e psicoterapeutas argentinos. É um livro que nos fala sobre casamentos não consumados. Trata-se de uma Edição da Paidós (Argentina). 
   Num mundo impregnado por sensações, de todo género, pode parecer quase contranatura  haver casais que não concretizam o acto sexual. As razões são múltiplas, desde as causas médicas (orgânicas ou psicológicas), passando pelos motivos educacionais e religiosos. Quando geradores de mal estar estes casamentos (atípicos?), em si mesmos, provocam doenças, destroem sentimentos e afastam os membros do casal, através de saturação e da incapacidade para lidar com o problema. Ninguém fica intacto!
   Os autores, num estilo muito literário e profundamente humano, relatam-nos várias histórias clínicas, ajudam-nos a perceber o que pode e deve ser feito. Nestes casos, cruzar os braços anula o Amor que une aquelas duas pessoas. Assim, mais do que o problema existente o que mata um casamento não consumado é a falta de comunicação e a incapacidade para pedir ajuda.
   Este é um livro que cativa e encanta desde a primeira página. Devorei-o parcialmente num viagem de avião de 10 horas, mitigando os efeitos do jet lag.
   Recorrendo, de novo, a um título do imaginário Hollywoodesco, atrevo-me a sugerir que este livro é dos que ficam “Para sempre, talvez”.

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