Há frases que nos perseguem como meigos cachorrinhos. Nesta altura do ano
diz a tradição que devemos enviar votos de Boas Festas e de Prosperidades aos
amigos e aos conhecidos.
E, de preferência, a frase, bonita e encantatória, deve acompanhar um objecto
mágico, um presente, que supostamente ficará guardado no coração de quem o
recebe, por força do simbolismo da época!
É como se tudo isto fosse uma espécie de painel de instrumentos para uns
momentos de felicidade formal, necessária e politicamente correcta.
Mas o Natal que nos rodeia não é simples e intuitivo com um iPod.
Pode ser burrice mas não consigo adivinhar o conforto e o bem-estar nos
que me rodeiam, mesmo no lado debaixo do Equador onde o desenvolvimento
económico vai de vento em popa, onde não há sinais da Crise!
Não temos motivos para Festas…
Ai Natal, Natal, onde estás?
Não é fácil acreditar na felicidade quando 100.000 portugueses estão a
emigrar todos os anos.
Não é fácil acreditar na felicidade quando Portugal tem uma das piores
taxas de Natalidade em todo o mundo.
Ai Natal, Natal, onde estás?
Um respeitado cidadão pode fazer vigarices repugnantes e no mesmo dia ir
a uma Igreja rezar pela alma dos seus entes queridos. Afinal, o pudor sempre
foi uma figura de retórica e há, cada vez mais, descendentes
de Maquiavel…
Os jornais relatam histórias de carnificina de crianças, actos
pretensamente tresloucados?
Ai Natal, Natal, onde estás?
Em diferentes momentos históricos, o niilismo associado aos acontecimentos
desagradáveis, ao desespero, empurra-nos para as interpretações mais pessimistas,
tudo mete nojo.
Nos tempos que passam, os vaticínios das Profecias Maias e outras visões
milenaristas alimentam os inconscientes colectivos. Deus nos acuda, a Pax Romana está prestes a acabar, sem
Honra e nem Glória, vem aí o fim do Mundo!
Aliás, a evidência dos factos dá credibilidade à descrença e às dúvidas
que se vão apoderando dos cidadãos: predominam as forças destruidoras, os
recursos naturais estão a escassear, os equilíbrios ecológicos é o que se sabe (o
Clima começou a revoltar-se!); o emprego para toda a vida está a tornar-se numa
miragem; o Estado Social ao desmoronar converteu-se num objecto de estudo;
perderam-se as Utopias.
Algo está mal na espécie humana, enquanto comunidade organizada… A lógica
do Crescimento sem sentido está a levar à implosão do Planeta Terra…
Ai Natal, Natal, onde estás?
O Natal não estará certamente só nos abraços
mandados por email e nos sms com frases de conveniência. Talvez, o Natal ande
por aí onde menos se espera.
Não sei se o Céu também precisa de cães mas o convívio com os diferentes grupos
não humanos que povoam este Planeta, como é o caso dos canídeos, ainda dá para sustentar
uma réstia de Esperança na natureza humana.
Se calhar, à força de tanta convivência com o
Homo Sapiens os ditos animais domésticos acabaram por herdar o que de melhor nós
trouxemos para a superfície da Terra. Bem hajam!
Paz e Harmonia! Feliz Natal!
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