quinta-feira, 1 de setembro de 2011



Prelúdio de um beijo

As datas simbólicas fazem parte da nossa vida e, como tal, fazem parte de nós. Aniversários e outros acontecimentos, mais ou menos, festivos atrevem-se a quebrar as rotinas. Servem para pôr o conta-quilómetros a zero. Obrigam-nos a parar, a tentar fazer algo de diferente para que esse dia não seja considerado inútil. Em certa medida, atentam contra a pasmaceira. O dia de hoje obriga-me a equacionar um desafio de todos os casais: podemos viver sem Amor?
É uma frase feita dizer: "O ser humano não pode viver sem amor. Sem amor, torna-se em algo incompreensível para si mesmo." Ou, então, “o amor é o mais belo de todos os sentimentos”.
Frases feitas, batidas, desgastadas mas necessárias. Porque verdade seja dita, a vida é como uma brisa inebriante, desvenda-nos tudo (basta estar atento!): paixões amorosas ou outras, projectos profissionais, filhos, sonhos, bens materiais, luxos (pequenos ou grandes), aventuras, etc. Mas há uma hora em que tudo se reduz a terra, a cinza…
O que sobra?
Nisso Álvaro de Campos tem razão:
“(...) Vi todas as coisas e
 maravilhei-me de tudo,
Mas tudo ou sobrou ou foi
 pouco, não sei qual, e eu sofri.

 Eu vivi todas as emoções, todos os
 pensamentos, todos os gestos.
 E fiquei tão triste como se tivesse querido
 vivê-los e não conseguisse (...)”
                                    Álvaro de Campos

Malgrado as suas dificuldades, o Amor é a única realidade humana necessária (necessidade básica, fundamental, fisiológica). Insubstituível (ainda que haja quem afirme que: “os cemitérios estão cheios de coisas insubstituíveis”!).
A sua manutenção num casal requer engenho e arte. Tanto o esforço que muitos casais acabam por desistir. Deitam a toalha ao chão e partem para o divórcio. Fartam-se de acrobacias, de cedências, de diplomacias, de boas palavras, de olhares subtis.
O conhecimento científico traz-nos algumas seguranças. Ajuda a eliminar o supérfluo, purga o que está a mais nas superstições. Combate os erros das religiões. E em matéria de vida amorosa a Ciência esclarece que nada nasce feito.
A Felicidade a dois não é imediata, para ser tocada tem de ser conquistada, com suor e lágrimas. É uma invenção quotidiana apimentada pela sexualidade e pelo sentido de humor. Rir-se de si mesmo, rir-se do(a) outro(a), rir-se para o(a) outro(a) e com o(a) outro(a). Rir-se sempre… Com sinceridade, lá do fundo do coração.

PS: para perceber um pouco as influências da História nos conteúdos do sentimento amoroso leia-se o curioso artigo: “The warm water in my heart”—The meanings of love among the Finnish country population in the second half of the 17th century”, publicado na revista History of the Family 16 (2011) 47–61 (disponível no site www.sciencedirect.com). 

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