quinta-feira, 24 de novembro de 2011

A notícia do dia

     O rosto do quotidiano fala-nos de greve geral e de crise (também geral, não apenas económica). Dois vocábulos, uma mesma realidade?
    Avulsas e raras são as outras notícias, as que renunciam ao desespero e descrevem um cenário de bem-estar e de alguma felicidade colectiva. Desapareceram as notícias positivas… Qué delas?     
   Conseguiremos algum dia (futuro distante?) viver sem o desconforto? O espaço aberto da mente suportaria o irrazoável, aquele instante ficcionado e ainda não alcançado, em que o bicho Homem se liberta de tudo o que é mau e passa a abraçar o contentamento? É como imaginar o cérebro desprovido de todas as ideias, qualquer que seja a sua natureza: disparatadas, alegres, macabras, eróticas, obsessivas e todas as outras…Ficar no silêncio completo, sem nada entrando no corpo. Sem pensamento, sem sonhos, sem música. No nada de nada, nas fragrâncias irrequietas do vazio.
   Não estamos preparados para não existir. Definitivamente, o mundo ficaria sem graça, tudo seria tão vago e indefinido.
     Em contrapartida, o que temos neste quotidiano é pouco apelativo, incaracterístico, não nos enche as medidas e, hoje em dia, já não remedeia as necessidades básicas (dizem-nos, que o Estado Social está em vias de extinção, vai soçobrar à queda da própria União Europeia). É como caminhar num chão gelado e não sentir nada. Nada podemos esperar.
   O que nos faz permanecer vivos, vale a pena lutar por objectivos ou ter esperança num mundo melhor?
    De repente, num gesto de lucidez, no fulgor da coragem de cada pessoa, se quisermos, até somos capazes de redescobrir que, no triste espectáculo dos dias que passam, os afectos ainda subsistem, resistem que nem corajosos gauleses (Viva Astérix, meu irmão!). As pequenas coisas (gestos, decisões, etc), quando impregnadas de afectos, acabam por fazer a diferença. São elas que nos ajudam a alcançar os sonhos.
    O tempo retira espaço de manobra a alguns dos ideais que alimentámos no passado. Mas os afectos não podem morrer…
    O Amor e os restantes afectos extraem o que interessa, fazem a síntese do essencial. Eles são o nosso instinto de sobrevivência.

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