quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Um belíssimo diálogo Ibérico!





Neste mundo globalizado faltam as singularidades, sobretudo, aquelas que fazem parte da cultura, da tradição das terras, do olhar das gentes, dos afectos das relações humanas. Da força da História…
Carminho, a portuguesa, e Alborán, o espanhol, transmitem essa singularidade com a eficácia do que é belo, sem abdicar do rigor da perfeição… É como um antídoto para almas cinzentas e pacatas.É imperdoável não ouvir. Ninguém consegue ficar indiferente!
As vozes completam-se, numa harmonia simples mas bonita.
Os estilos não se opõem. Aliás, esta canção é um “atrevimento” muito bem conseguido. Atrevimento porque existe a ideia preconceituosa de que o Fado para ser puro não se pode misturar com outros estilos musicais. Se o fizer abastarda-se, fica desvirtuado, acaba por perder a sua essência…
Além dos aspectos artísticos, ficamos surpreendidos pelo diálogo encantador (através da música!) entre um homem e uma mulher. Ao cantarem interpretam uma relação entre pessoas, dão-lhe corpo, tornam-na viva para que possa existir. As palavras explicitam essa relação, adjectivam os afectos (os bons e os maus) colocando-os a comandar o enredo amoroso.
Carminho y Pablo, qué angelados son!!!
 
Através das palavras adivinhámos um contorno ficcional que torna credível o envolvimento das duas pessoas. Os olhos que se fecham para apelar ao silêncio interior e aumentar a ressonância das vozes. A mímica facial do homem da guitarra, carregada de expressividade…Cómica porque registada mas dotada de uma naturalidade que desconcerta. E, acima de tudo, os corpos dos cantores que, embalados pela música, comunicam a necessidade do outro, a probabilidade do erro, a fraqueza associada aos gestos dos amantes. Esta canção não é só uma canção. Aliás, todas as canções nunca deveriam contentar-se em ser meras canções, ou seja, texto + música.
A palavra carícia por eles tantas vezes repetida ajuda-nos a tentar descobrir:
Por onde andam as vidas silenciosas e, tantas vezes, invisíveis?

Sem comentários:

Enviar um comentário