quinta-feira, 22 de março de 2012

Os cegos sabem fazer amor?


Jorge Luís Borges pelo pintor argentino Luís de Bairos Moura





O olhar funciona como uma linguagem essencial de atração. Ele ajuda a despoletar todos os outros sentidos. Os normovisuais apercebem-se da outra pessoa, o objeto erótico, através da visão e isso facilita imenso a relação sexual, dá uma orientação ... A visão é um estado inicial que, quando ultrapassado, se liga aos outros sentidos: olfato, audição, tato e até paladar. A imagem é construída pelo conjunto de todos eles. Ultrapassado o momento inicial da atração, os outros sentidos são somados contribuindo para o jogo amoroso. Ou seja, ainda que a visão seja um poderoso estímulo na sexualidade, os cegos aprendem que nem todas as visões são impressas pela retina.

Apesar do efeito consensual dos vários sentidos, que interagem entre si, coloca-se a questão: os cegos sabem fazer amor? E como o fazem? Tiram partido dos outros sentidos?
imagem Google

    É conhecida a plasticidade cerebral e o modo como é importante para vida de relação e a adaptação ao meio ambiente. Mediante essa extraordinária propriedade o cérebro é capaz de se remodelar em função das experiências do sujeito, reformulando as suas conexões em função das necessidades e dos factores do meio ambiente. Na ausência da entrada de um sinal visual de que forma a estrutura cerebral desenvolve habilidades e como se adapta à privação desta modalidade sensorial? Um estudo com 38 participantes divididos em 3 grupos de acordo o grau de deficiência visual, incluindo a deficiência congénita, foi testado com o objectivo de explorar as habilidades dos sujeitos cegos e as diferenças neuroanatómicas no hipocampo e na região cerebral para processamento espacial. Tiveram que realizar uma tarefa que incluía a aprendizagem de um labirinto. Os resultados evidenciam que os cegos congénitos possuem habilidades de navegação e um volume do hipocampo superior comparativamente com os restantes    A privação visual não prejudica a informação espacial e a actividade motora. A investigação tem demonstrado que a visão não é necessária para ter uma boa representação do espaço.
Bibliografia
Lahav O, Mioduser D. Construction of cognitive maps of unknown spaces using a multi-sensory virtual environment for people who are blind Computers in Human Behavior, Volume 24, Issue 3, May 2008, Pages 1139-1155.
Jednorog, K. & Grabowska, A. (2008). Behavioral manifestations of brain plasticity in blind and low-vision individuals. Acta Neurobiologiae Experimentalis. Vol 68(1), pp. 83-90.
França, D.& Azevedo, E. (2003). Imagem Corporal e Sexualidade de adolescentes com cegueira, alunos de uma escola pública especial em Feira de Santana, Bahia. Ciências médicas. biológicas., Salvador, vol. 2, nº 2, p. 176-184.


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