domingo, 16 de dezembro de 2012

É a vida!

-É esta uma frase que alguns pronunciam ao saber que alguém acaba de morrer. Banal e resignada, a expressão acantona a morte à fatalidade, o que não se pode controlar. 

É o ter que ser, como se a morte fosse uma espécie de chama insanável, pútrida, que consome a vida, arde, arde até que consegue destruir tudo à sua volta, transformando a existência numa terra de ninguém: é o efeitoNaplam

Digam o que disserem, com a destruição biológica há um ponto final. Acontece a irreversibilidade de um vasto conjunto de fenómenos que vão terminar, a saber:
  1. o funcionamento de todas as células, tecidos e órgãos;
  2. o fluxo espontâneo de todos os fluidos, incluindo o ar (“último suspiro”);
  3. o funcionamento do sistema cardiovascular e dos pulmões;
  4. o funcionamento espontâneo de todo o cérebro, incluindo o tronco cerebral (morte encefálica);
  5. o funcionamento completo das porções superiores do cérebro (neocórtex);
  6. o desaparecimento da consciência. 

Reconhecendo o à vontade com que se apresenta, a morte é sempre o eterno retorno aquilo que é essencial. Como o tempo, a morte precede o Homem, independe dele, estabelece a impossiblidade do Homem imaginar um tempo em que ele não esteja presente.

Custa admitir mas, em termos biológicos, só a morte existe (existenz).

Mas ultrapassando esta visão niilista e repondo Jean-Paul Sartre (1905-1980) no centro do pensamento Ocidental, é legítimo admitir que a morte é um mero facto, algo que acontece. A frase “todo homem é mortal” tem o mesmo significado que “todo o homem é natal”, isto é, a morte não será necessária para o indivíduo assim como não foi necessário que ele nascesse. O nascimento é um facto em tudo idêntico ao da morte. São ambos factos ocasionais — podem ou não acontecer — e quando acontecem fazem, respectivamente, aparecer e desaparecer o indivíduo do palco do mundo.

Da perspectiva clínica é Heidegger que tem razão.
Com a morte, o olhar deixa de  AMAR  a COISA AMADA. 
Por isso, compreende-se que Heidegger ressalte o sentimento de angústia do Homem perante a morte. Há a perda! A famigerada perda está sempre presente
A angústia da morte é algo que altera tão radicalmente o Homem que o transforma num desafio, o único ser autêntico, o único ser individual, o único ser realmente mortal. 
Porque, no fundo, a maior morte é a dos que ficam, os que sobrevivem à partida definitiva de um ente querido, e não sabem o que vão fazer com o seu desaparecimento, como continuar a navegar depois da sua inexistência.
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