terça-feira, 20 de setembro de 2011

Saudades do Futuro

Oxalá que num futuro, não muito longínquo, o comum dos cidadãos redescubra e passe a ler, com regularidade, livros como a “Arte de Amar” de Ovídio, uma obra irresistível, de leitura obrigatória, verdadeira cartilha para a sedução e a convivência de pessoas adultas.
Os tempos que passam assustam, de facto! A crise económica é apenas uma parte do problema. Os interstícios da vida comunitária também estão em sofrimento, ainda que não assumido, porventura, por estar na moda apregoar a liberdade pessoal como um valor absoluto e inquestionável. Uma das áreas em que é evidente a disfuncionalidade prende-se com a partilha da intimidade. Preocupa a facilidade com que as pessoas “acasalam” (sabendo que o casamento é entendido por instituição decrépita, em vias de extinção): passam a coabitar, assumem as responsabilidades inerentes ao quotidiano de qualquer família e, passados uns tempos, têm filhos. Tudo bem, este é o ciclo natural de qualquer família, existam ou não os laços do “sagrado matrimónio” ou um papel do Registo Civil. A vida em comum, a formação de casais é uma realidade completamente intemporal. Sem casais não há sociedade organizada que aguente. A solidão voluntária tem os seus custos sociais: acaba por levar à auto-destruição das comunidades humanas.
Mas o novo modelo de família acarretou um problema insanável, que tem vindo a corroer o que de (muito!) bom possa estar associado a estas soluções emergentes para a organização da conjugalidade. A diluição, o esbater de barreiras em relação aos domínios da intimidade, aquilo que é só nosso e que aceitamos partilhar com a outra pessoa, aquela que supostamente desejamos, queremos e amamos, não se acompanhou por um acréscimo de conhecimento. Não há valor acrescentado à proximidade (fácil!) dos corpos. Viver com alguém implica conhecê-la, dar-se conta do que sabemos dela, em quase tudo. Conhecer o que há de bom e assumir responsavelmente os defeitos.
Sem esse conhecimento prévio não devemos ter a veleidade de nos abalançarmos para um projecto de vida em comum. E, sobretudo, não temos o direito de incluir os filhos nessa aventura. Muitos casais falham porque não fizeram esse processo de mútuo conhecimento, que leva à aceitação incondicional e positiva do outro, da pessoa que está ali ao nosso lado. A tragédia é que ao descobrir que aquela pessoa não nos irá acompanhar durante muito tempo já reproduzimos os nossos genes e geramos um filho. E, neste aspecto, importa ressaltar igualmente o fracasso das estratégias convencionais de Planeamento Familiar. Dispomos de métodos seguros de contracepção, desde que usados como deve ser.
 Infelizmente, são os filhos que pagam os juros da imaturidade dos pais…
Temos de ter saudades do futuro, sonhando, desejando que os casais serão mais atentos e responsáveis em relação ao Planeamento Familiar.

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